sexta-feira, 31 de agosto de 2018

O vira-latas

Ao relento, molhado, numa noite fria,
pelo sereno que lentamente ressuma;
o cão abandonado não tem fantasia,
sente-se acolhido somente pela bruma.

Só lhe vem esperança que esta noite suma,
lembrando do calor que no lombo ardia;
do jardim de hortênsias que o vento perfuma,
o qual definha toda tristeza do dia.

Viver não é preciso, pois futuro é incerto,
tudo conspira pra que não tenha ilusão,
o céu está distante e o frio está bem perto.

Porquanto vai levando esta vida, pois não!
as vezes, abrigado, no mais, a céu aberto,
afinal, tudo bem! Que se espera dum cão?

Um comentário:

  1. Perfeito, meu caro amigo poeta Jair; realmente a vida de um vira-latas é imprevisível. Mas, em compensação, o alto nível de vossa poesia é previsível. Um abração. Tenhas um ótimo fim de semana.

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