sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Acróstico


Arrogante, o poeta atentados comete
Palavras que vivem soltas no espaço
Reprime, distorce, recria e pinta o sete
Indiferente se assume um erro crasso.

Seja por causa da métrica ou da rima
Inventa gramática ou outra conotação
Ou, as vezes um significado aproxima
Naquilo que lhe pareça boa explicação.

Assim, todo vate as palavras aprisiona
Negando a elas uma liberdade de ação
Deixa a palavra de ser sua própria dona
Obnubilada pela opinião do bardo então.

Perseverante, o pseudo criador continua
Assassinando o vernáculo sem piedade
Liberando os seus bichos assim pela rua
Ainda que a palavra não tenha liberdade.

Vai então o poeta se comportando assim
Rebelado mas querendo mostrar serviço
Acaso nem mesmo percebe o próprio fim
Sendo que ao vigor da palavra dá sumiço.

Um comentário:

  1. Pois é caro amigo poeta Jair, teu poema reportou-me à memória de um andarilho que conheci na minha juventude, o qual disse, certa feita, ao perceber que eu gostava de garatujar versos: os poetas são feitores fracassados de coquetéis, que abusam das palavras, porque não possuem a necessária coragem de manipular os ingredientes materiais, dai passam a se servir do manancial linguístico nas suas encenações verborrágicas.
    Um abração. Tenhas um ótimo fim de semana.

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