quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Somos escravos do tempo

Ah, se meu dia fosse só de auroras!
ah, se jamais existissem assombros!
e sumissem os pesos de meus ombros;
e se tornassem dóceis estas horas.

Porém, o implacável tempo fulmina,
diz quando e se haverá  alvoradas;
e pouco liga pras minhas jornadas,
apenas segue amoque sua rotina.

Então, o tempo vai por aí seguindo,
não se apressa nem mesmo se dilata,
mas nosso tempo vai diminuindo.

Porque tempo que cria também mata;
e pouco lhe interessa o belo, o lindo;
não liga, mas também não faz bravata.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A outra metade

Ninguém é ilha, ninguém está sozinho,
seguimos  juntos,  ou  vamos  ao lado;
numa mesma  senda, num só  caminho,
muito embora  cada qual com seu fado.

Pois,  assim caminha a humanidade,
seres humanos  na  estrada sem fim;
cada qual a procurar a outra metade,
parte igual  que lhe  cabe no butim.

Porém, certo dia, que não sei quando,
o que busca talvez venha encontra-la,
e o círculo,  por fim,  então  fechando.

Eis que, o sino da torre, pois, badala,
dizendo, o destino  está no  comando,
para  mais  uma  festança  de  gala!

Primavera

Luz do sol invade minhas janelas,
uma onda de calor lá fora ondula;
sinceramente, cenas das mais belas,
o sol bem de leve, a floresta oscula.

Então transformam-se em aquarelas,
o verde da mata e o céu que azula;
flores brilham, orquídeas entre elas,
porém, com estas o besouro copula.

Um louva-a-deus com suas mãos postas,
agradece a floração nas encostas,
onde esta primavera galga os montes.

No córrego se foram águas turvas,
nenúfares brotam nas suas curvas;
o campo mostra novos horizontes.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Pax romana

No alvorecer, as coortes romanas
despertam os tementes peregrinos,
com a força de trombetas e hinos,
em remetidas bárbaras e insanas.

Ferro e fogo destroem as choupanas,
sequer poupam mulheres e meninos,
que apelam aos poderes divinos;
descrentes nas ditas forças humanas.

Por certo, é terrível aquela vaga,
e de sangue o solo sagrado alaga,
onde havia casas, já não mais.

Pois o massacre fora consumado,
corpos e cinzas para todo lado;
Pax romana: na morte todos iguais.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Via crucis do bardo

Pela estrada, aquele que, sem pecado,
que não se vê pecando neste instante;
mesmo quando, seguindo adiante,
vai continuar sendo imaculado.

É um bardo de coração lacerado,
que, racional, ativo e pensante;
numa via crucis assaz torturante
carrega a dor no peito magoado.

E, não obstante essa mágoa suprema,
lhe tolhe os braços pesada algema;
não há, portanto, desdita maior.

Do vate, não se ouve algum reclamo;
poeta bravo, assim eu o chamo;
as dores do mundo sabe de cor.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Poeta sofre

Na procura do poema mais puro
para manter alumbramento aceso;
olhos fechados no quarto escuro,
do vate pensamentos perdem peso.

Quase sempre, na sua frente o muro,
que desejando mantê-lo ali preso;
não percebendo que o vate é duro,
é bravo, e vai se mantendo ileso.

Porque é vendedor de maravilhas,
as mais boas intenções ele tem,
então os seus poemas não são ilhas.

O poeta as vezes não se contém,
põe suas composições a partilhas,
sabendo que sequer ganha vintém.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Tributo a Jorge Luis Borges


Borges sabe que nunca fora vão,
que, cego, observou de frente o mudo;
com seu olhar puro, porém agudo,
como a ver nele seu próprio irmão.

Borges, o filósofo que bem sabe,
e, por saber, estende seu perdão
a todos que tem merecido então,
pois julgar semelhante não lhe cabe.

Borges, de ilustres modos também;
sábio e engajado tal como o pinto,
nos textos e linhas não se contém.

E sobre a história tem olhar distinto,
porquanto passa e vai bem mais além,
sem errar, já decifrou o labirinto.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

O vulcão


A lava no interior da terra presa
quase eternamente adormecida,
mas em calorosa matéria acesa,
bem ansiosa para entrar na lida.

Seu aparecimento será surpresa,
numa data talvez indefinida;
para o homem, a horrenda beleza
que tanto destrói como traz a vida.

E permanece queda, palpitando,
até que, certo dia, não sei quando
mostra-se em forma de som e clarão.

De maneira a deixar o povo mudo,
extático, a olhar aquilo tudo,
encantado diante do vulcão.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Esses poetas...

Vates são pregadores nos desertos
E, se bem sucedidos, viram lendas
De glória e homenagens são cobertos
Sob louvação e premiações tremendas.

Mas, ainda que bons, não são espertos
E, as vezes, sob privações horrendas
Eles se perdem em destinos incertos
Andam amoque por estranhas sendas.

E, se perdidos, permanecem quedos
Como se poetas tivessem segredos
Terríveis de consequências mortais.

Se livres, poetas soltam as travas
Porque suas obras não são escravas
E gostam de conquistar seus portais

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Alma do sonho

Sonhar sonho etéreo que no alto ondula,
sonho, talvez, levado pelo vento;
aqui no chão andando a passo de mula,
vai a alma em busca dalgum alento.

Porém, o sonho com alma copula;
desse encontro o poema é rebento,
do poeta que assume sua gula,
de gravar em pedra o pensamento.

Sonho, alma e poeta, a feliz fusão,
que só beleza ao Planeta nos traz;
o vate esse construtor de ilusão,
daquele sonho, um poema ele faz.

Se pode dizer sim, jamais diz não,
porque de criar sonho é capaz.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Convocação

Poetas!  Sigamos  juntos,  altivos!
usemos nossos cérebros potentes,
produzindo   poemas  expressivos;
os melhores que fazem nossas mentes.

Passemos a ser bardos redivivos,
nossas vozes troantes e frementes;
nenhum  poema estático / passivo,
contudo de exclamações refulgentes.

Ocupemos o que houver de espaço
com amplo talento, contudo, lasso,
eficaz, mas dum expressar brando.

Pois recuperemos todos e cada,
numa obra sólida mas motivada,
que pelo mundo saia badalando.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Utopia

Na vida, segundo minha vontade
Não teria espaço para o pranto
Tampouco desavenças e maldade
Predomínio da amizade no entanto.

Desaparece a dor e ansiedade
O dia-a-dia quase um só encanto
Não nos falariam da eternidade
Ou dos poderes de qualquer santo.

Não seria cada um pra seu lado
Mas, por certo, um viver descolado
E sem desânimo nem amargura.

Ao invés de armas, amor a rosa
E nada da tal senda dolorosa
Acaba todo ódio, fica a doçura.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

O Baobá e eu

Baobá australiano de 18 anos

Eis-me pasmo, talvez mesmerizado,
em  frente  a  um  majestoso  baobá;
que na Austrália muito adaptado,
cresce  muito  e bonitas  flores  dá.

No pequeno Príncipe era portento,
que  crescia  num planeta  pequeno;
lembro, conquistou vero sentimento,
como fosse  vivente  extra  terreno.

Depois, plantei vários no Brasil,
precursores de beleza, eu espero,
para quem gostaria, mas não viu.

Baobá,  um  gigante  mui  sincero,
portentoso,  jamais  fracote ou vil,
da minha janela admira-lo eu quero.