terça-feira, 29 de abril de 2014

Velhice

Maldito espelho diz que envelheço
Que esmaece tonicidade muscular
Talvez tal senilidade seja o preço
Que todo vivente terá que pagar.

A degradação corporal é o começo
Duma velhice que está prá chegar
E não há como conservar em gesso
Aura de saúde plena, espetacular.

Sequer adianta virar pelo avesso
Tentando desse modo saúde salvar
Assim ofegante respirando opresso
Cansado, encostado num espaldar.

Então descubro que tudo mereço
Pois aqui não estamos para ficar.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Escolha

A vida é intrincado quebra cabeça
Que muitas escolhas a todos oferece
Independente do que lhes aconteça
Cada indivíduo terá o que merece

Mas, as vezes, nem tudo se encaixa
Algumas peças faltam simplesmente
Que não nos deixam de cabeça baixa
Mas que estimulam andar prá frente

Contudo, nos é compulsório sonhar
Com descontração da fugaz euforia
Descobrir aonde será nosso lugar

Neste Planeta que rescende poesia
E que antes de mais nada é nosso lar
E a nós oferece arena para porfia.

domingo, 27 de abril de 2014

Há sim loucura!



Existe pois, um sonho louco em cada um
Um sonho de devaneios sem sintonia
Tal uma máquina focando grande zoom
Em oculto raro evento o qual não se veria.

Mas não façamos desse fato um argumento
O qual faça que o nosso onirismo desista
Então nos deixe cair nalgum desalento
Que nosso espírito derruba e alma entrista.

Existem as coisas que não sabemos tudo
Nesse grande caleidoscópio de mistérios
Coisas que muitas das vezes nos deixam mudo.

Pois, lembre-se, vivemos neste planisfério
Do qual mal conhecemos o seu conteúdo
Contudo, que deverá ser levado a sério.
 

sábado, 26 de abril de 2014

Matear é viver

Rio Grande, rincão de gente cuera
Onde prá mais de metro se mateia
Gaudério macho, também pudera,
Mateia no almoço, na janta e ceia.

Mate também chamado chimarrão
É muito mais que simples bebida
O mate passando de mão em mão
É uma roda de amigos bem servida.

Enquanto os do norte bebem cerva
Tão gelada que até dói seu dente
O gaucho degusta alegre sua erva.
Charlando pois como antigamente.

Porque afinal mate não se reserva

Bebe-se na hora pelando de quente. 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Rio

Era só uma nascente, era apenas um fio
Contudo, seu projeto tinha grande futuro
Quem sabe, algum belo dia tornar-se rio
Embora seu curso assemelhe um enduro

Foi se fartando de águas como um louco
Foi se enchendo alargando as beiradas
Meandros formando assim pouco a pouco
Rasgando os campos com suas aguadas

Rio quando observo que agora és frio
Deixaste de ser aquele magro riacho
Formaste estuário de águas barrentas

Tem tantos tributários unidos em lio
És a mais orgulhosa corrente, eu acho
Barragens e represas agora arrebentas.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A vida é bela!


Num lugar esconso muito distante
Existe país dum povinho inzoneiro
Onde poucos são gente importante
E maioria nem sequer tem dinheiro.

Mas, no planalto central dessa ilha
Políticos se locupletam o dia inteiro
Na terra/fantasia de nome Brasília
Climazinho corrupto bem maneiro.

Mas vai haver futebol nessa terra
Então deixa de ser encrenqueiro
E procure não iniciar uma guerra

Por que não há lugar prá vespeiro
Pois neste país que o povo se ferra
Há sempre o tal jeitinho brasileiro.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Assim é


Pouco interessa o que poeta quer
Se seu desejo é dizer o que sente
Poema se comporta como mulher
O mais das vezes manda na gente.

Palavras são termos imperativos
Que, se querem mudam o sentido
Comportam-se como seres vivos
Que podem ou não serem lidos.

Um mero escrevente será o vate
Pelo alumbramento conduzido
Antes de saber do que se trate
Sob o poema já estará imbuído.

E quando o semancol lhe bate
Conclui o poema num estalido.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Viver é morrer


O que é imaginado, o que é real
Não é o que sentimos e vivemos
Nenhuma sensação impõe-se tal
Qual amargoso gosto do veneno.

O vida é uma colcha de retalhos
A nós imposta como brincadeira
O caminho vida não tem atalhos
De um lado fogo do outro ladeira.

Somos pedaços de filme cortado
No qual sobrevive o mais forte
E more no final um desalmado.

E jamais contemos com a sorte
Porque nosso destino está traçado
Quem nos dá vida reserva morte.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Pressa


Não há porque o tempo desafiar
E estar quase sempre de saída
Parecendo que não existe lugar
Onde possa contemplar a vida.

Quem muito corre não descansa
É pedra que rola e não cria limo
E com pressa cada vez avança
Para alcançar idealizado cimo.

Continua correndo a seu talante
Corpo faminto e alma em jejum
Embora alvo permaneça adiante.

E vê que no mundo é só mais um
Quase sem fôlego e resfolegante
Corre e não chega a lugar algum.

domingo, 20 de abril de 2014

Ápice da criação


Ora direis, com certo espanto talvez,
Como então na humanidade não crês?
Pois eu, tranquilamente vos esclareço
Pelo Homo sapiens não tenho apreço.

Porquanto ele é seu próprio inimigo
Apenas preocupado com seu umbigo
E que tudo mais pouco lhe interessa,
Porquanto nunca convive, tem pressa.

Direis, mas isso não faz sentido algum!
Então o tal humano é autodestrutivo?
Sim, se matará até não existir nenhum.

E vos direi: acha-se o maior ser vivo,
Mas, do Universo, é um mero “pum”
Este que mata sem qualquer motivo.

sábado, 19 de abril de 2014

O bom caminho


Por que uma vida assim tão estranha?
A qual corrompe, engana e amargura
Porquanto com isso enfim nada ganha
E talvez te estimule à terrível loucura.

Por que da vida todas as leis profana?
E grita aos céus blasfêmias eloquentes
Que desrespeitam a condição humana
E ofendem profundamente as gentes?

Tu estás inspirado em desejos loucos
Incapazes de se sincronizarem à vida
Repare que esses sonhos são poucos.

Que te levam a uma estrada só de ida
Onde não se ouve seus apelos roucos
Muito menos se cura sua alma ferida.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Voltando à Macondo


Retorna de uma vez para Macondo
Aquele que a criou e aos Buendia
A vida terrena acabou transpondo
E foi morar onde justamente devia.

De palavras oblíquas fez literatura
E nova realidade acabou propondo
Sua criação para sempre perdura
E veio como cometa num estrondo.

Garcia Marquez era um gigante
De envergadura mui avantajada
E equipamento cerebral brilhante
Que deixou nas letras sua pegada.

Vai, descansa autor tão elegante
Macondo é o fim da sua jornada.

Frio


Pois alguns me dizem um louco puntual
Que vez ou outra surta, vertido em sanha
Maluco de pedra que não se acha igual
Nem no chão nem no alto da montanha.

Porque não rezo pela cartilha estranha
Muitas vezes não pareço um cara legal
Porém como minha escolha é tamanha
Mas de moça casadoira sou partido ideal

Veja bem, não sou indiferente a paixões
E nunca vivo alheio a toda essa gente
Meus sentimentos as vezes são vulcões

Que mesmo esse frio gelo fazem quente,
Pedindo que não julguem minhas ações
Pela idade do gelo que vem pela frente.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Cantotanto


Bastante seja por tudo mais enquanto
Nada se veja em frente aparentemente
Bem mais amigo se levante um canto
O qual seja antigo e que nunca mente

Que seja bom enquanto dure o desejo
De cantar um canto há muito desejado
De se fazer ouvir mostrando um ensejo
Que o canto bem melhor seja cantado

Porém que desejo se encaixe então
Num tão belo canto que se faça arte
E se espalhe amoque pelo mundão

E se for possível alcance até Marte
Canto/conto de Bocage com palavrão
Que a humanidade seduza destarte.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Autenticidade


Era um poeta em crise existencial
Que se vê como pássaro no quintal
E renega o que sua mente encana.
Como ser nobre sem ser Quintana?

Colorar em palavras de aquarela
Sem parecer a fabulosa Florbela?
Escrever sem nunca se locupletar
Como sempre o fez Ferreira Gullar?

E lhe vêm os passarinhos então
Que estes tantos outros imitarão
Mesmo que estejam em revoada

Não lhes acode imitar ninguém
Porque canto natural as aves tem
E pelo canto não nos cobram nada.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Fast tudo


Vai de fast isso, fast aquilo, fast food
Quanto mais fast, mais rápido se ilude
Já não diminui o rítimo para pensar
Esse homem que está em todo lugar

Lhe parece que viver é uma corrida
Porém o que passa é a própria vida
E ele, consumindo-se, não aproveita
Correr, batalhar sem pensar sua seita.

Pois é Homo sapiens esse animal vil
Que queima a vela pelos dois lados
E nada sabe da vida, porque não viu?

Ignorante, comporta-se como gado
Como em manada atravessando rio
Acreditando que sofrer será seu fado.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Estações


Queiramos ou não sempre será assim
Calor fecha uma, frio abre outra estação
Mas, as vezes, sem que vejamos o fim
Primavera dribla outono e invade verão.

Não existe uma ordem justa e perfeita
Que a natureza cegamente obedeça
Porque calendário é uma via estreita
Apenas planejada pela nossa cabeça.

Não culpemos o tímido outono, então
Que entra em cena bem de mansinho
Pois ele, com a sua calada mansidão
Sabe, daqui a pouco estará sozinho.

Quando o frio do inverno abrir o portão
Outono vai pra casa bem devagarinho.

domingo, 13 de abril de 2014

Noite


Na consciência soa voz pequeninha
Tênue passional, porém insistente
Mostrando que lá de dentro vinha
Desconforto que incomoda a mente.

Contudo, parece monólogo gritante
Assaltando-nos como um pesadelo
Que não deixa sequer um instante
De lançar-nos um fremente apelo.

Entretanto haverá de existir um jeito
De enfretar-mos infeliz madrugada
Desoprimir para sempre nosso peito,

Debaixo dessa janela escancarada
E retornarmos tranquilos ao leito
Sem sentir ou pensar em mais nada.

sábado, 12 de abril de 2014

Fantasmagoria


As vezes as coisas acontecem ao contrario
Daquilo que consideramos como normal
Porquanto essa tal internet é um berçário
De estranhos e impunes eventos, afinal

PC desconfigurado é sempre um calvário 
Que nos deixa com pincel mas sem escada
Ali em frente à telinha verdadeiro otário
Transformando-nos em pessoa abobada

E pior, não existe uma varinha de condão
Que alivie dores internéticas de usuário
Se existirem remédios para tal, sei não 

Restando-nos somente repassar o rosário
Esperando do problema autêntica solução
Enquanto isso, sem nem fazer comentário.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

A inteligência está onde a pomos


A calipígia despertou ira popular
Não sei porque tanto menoscabo
Festivas mídias vivem a anunciar
Que todo povo com ela está brabo.

Como Pensadora foi posta no altar
Eu tento entender mas não me gabo
A Popozuda cuja vida era só cantar
Está pois descascando esse nabo.

Mas estão errados neste particular
Se come pão amassado pelo diabo
É porque não paramos prá pensar
Que sua inteligência está no rabo.

Portanto, pensando nesse manjar,
Vou “lavar as mãos” no meu lavabo.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Mente calipígia


Grande celeuma: não é pensadora
Essa Valesca de físico espetacular
Quando muito é medíocre cantora
Que nem sequer muito sabe cantar.

Nada criou que convença a gente
Que do pensar filosófico é luminar
Pois parece que tão simplesmente
Se faz sensual no palco a rebolar.

Mas talvez o povo esteja enganado
E seu cérebro esteja em outro lugar
Porque olhando para o lado errado
Sua mente não podemos encontrar.

Portanto reparemos no belo rabo
Que é onde foi seu cérebro morar.

Mia Couto


António Emílio Leite Couto é Mia
Um biólogo moçambicano estelar
Com idioma tem perfeita sintonia
Sua própria grafia costuma criar.

Tanto é que seu texto vira poesia
De palavras que fogem do vulgar
Que mágica esse autor inventaria
Pra ser o Guimarães de além mar?

Fico mesmerizado com a ousadia
Que esse escritor tem pra mostrar
Sem ele a Flor do Lácio não seria
Esse pródigo idioma tão peculiar.

Couto como príncipe da sinestesia
Instiga todo tempo a gente pensar.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Habemus Popozuda!



Toda orgulhosa a República Francesa
Com sua filósofa Simone de Beauvoir.
Ora, “O segundo sexo” não põe mesa
Causa-nos frouxos de riso, ah! ah! ah!

Hannah Arendt nasceu na Alemanha
Cunhou a frase “A banalidade do Mal”
Parece-nos pensadora bem estranha
Com uma visão de mundo tão parcial.

Brasil manda melhor nessa categoria
Pois a ninguém precisará pedir ajuda
Temos a pensadora cheia de energia,
Que canta e dança, Valesca Popozuda.

Morra de inveja Europa da periferia
O terceiro mundo lhe deu um caluda!

Literatice

Não termo neutro que sentido oblitera
Mas palavra positiva no sentir e falar
Que quando estimulada como fera
A nós ataca diretamente na jugular.

Termo de solilóquio para mim já era
Palavra vazia de notação rudimentar
Pois da linha escrita mais se espera
Que um naturalmente mero versejar.

Há também linha cheia de quimera 
Porque para tudo se encontra lugar
Se real sentido assim não degenera.

Perguntamos então por que rotular
Quando se está escrevendo à vera
Não criando literatura espetacular.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Limerique

Lembre, se estás à margem meta o pau
Ponha boca no mundo grite, escambau
Porque a onça só surta
Cutucada com vara curta
Mostre ao mundo que é poeta marginal.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

O outro lado


Porque nem sempre a vida é justa
Há mais coisas da janela prá fora
Do que acreditar nelas nos custa
De quanto a pura razão implora.

A chuva confunde os neurônios
Que outra coisa não é que pingos
Então traz a tona seus demônios
Numa alegre tarde de domingo.

Vocábulos ávidos na sua caneta
Completos de metáforas insanas
Ainda que à deriva nos remeta
Inventam cacófatos bem bacanas.

Então nestes poemas de opereta
Ocultam-se conotações sacanas.

domingo, 6 de abril de 2014

Limerique

Porque fazer reflexão o poeta gosta
Em encontrar soluções então aposta
Ainda que se desdobre
No fundo ele descobre
Pensar cria mais questão que resposta.

sábado, 5 de abril de 2014

Adeus, Zé


Um belo dia chega a ceifadeira
Com seu velho alfange em riste
Leva uma alma a sua maneira
E deixa mundo bem mais triste.

Ia José Wilker com a grave voz
Caminhando distraído pela vida
E a ceifadeira com modo atroz
Incute no seu peito fatal ferida.

Agora em viagem sem retorno
Vai o Zé habitar outra morada
Onde o clima é sempre morno
E onde um dia irá a namorada.

Para o bem findou o transtorno
Do teatro, cinema e madrugada.

Aldeia planetal

Porque o mundo tornou-se aldeia
Como MacLuahn há décadas dizia
Com a informática
Na teoria e prática
Aos nossos lares estendeu sua teia.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Noite


Na consciência soa voz pequeninha
Tênue passional, porém insistente
Mostrando que lá de dentro vinha
Desconforto que incomoda a mente.

Contudo, parece monólogo gritante
Assaltando-nos como um pesadelo
Que não deixa sequer um instante
De lançar-nos um fremente apelo.

Entretanto haverá de existir um jeito
De enfretar-mos infeliz madrugada
Desoprimir para sempre nosso peito,

Debaixo dessa janela escancarada
E retornarmos tranquilos ao leito
Sem sentir ou pensar em mais nada.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Expressão

Se quero dizer sim e acabo dizendo não
A vida se torna por demais complicada
Pois melhor que algo dizer, é dizer nada
Que assim evita-se qualquer confusão

Mas não há como evitar uma expressão
As ideias aparecem sem pedir licença
E sem falar não há óbice que se vença
Pois não se chega a qualquer conclusão

Dizem que falar é prata e silêncio é ouro
Concordo que cada um tem sua medida
Pois se falar muito é talvez dizer pouco

E homem calado nunca causa desdouro
Desde que olhe ao lado o que é a vida
E até sem entender não se torne louco.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Vinicius


Poetinha era um tanto radical
Só à estética dava seu aval
Em versos se peias
Sacaneava as feias
Pra ele beleza era fundamental.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Há cinquenta anos


Aquele cabelo cortado bem rente,
Recruta, assustado, meio bisonho
No quartel junto à estranha gente,
Em trinta e um de março me ponho.

Havia evidente insegurança lá fora,
Que nossa caserna não alcançava
Pessoas sumiam, se iam embora
De seus nomes ninguém lembrava.

Superiores alertavam sobre perigo
De comunistas soltos àquela altura
Até hoje, compreender não consigo.

Mas salvemos a nossa vida futura
Batalhemos contra o cruel inimigo
E para essa causa vale até tortura.