sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Encanecendo

Envelheço, vejo à frente a sepultura
Atrás, bastante lá atrás, a mocidade,
E que era certamente a melhor idade
Sequer apercebida naquela lonjura!

Então. agora vida assemelha agrura
Repleta deste sentimento de saudade
Embora aos céus pedindo paz brade
Falta-me porém tolerância e doçura.

Creiam-me, é toruosa esta travessia
Diferente de tudo que na infância vivia
Sou agora tal uma casa abandonada.

Lentidão onde não passam as horas
Silêncio prostração e cinzas auroras,
E afora isto, eu já nem sei mais nada!


Fui brindado com este excelente soneto da Ania:

Caminho só de ida...

Andar vacilante, sigo pela vida
o tempo é curto, e a estrada, só de ida
passos trôpegos...fantasma claudicante
num caminho que termina logo adiante...

Nem a relva, nem as brancas margaridas
percebo nessa andança definida
pelo destino, tirano torturante
que empurra, sem piedade, atropelante...

E o sol vai se pondo, sumindo na tarde
cansada, sozinha, sigo a jornada
suportando a triste sina, calada..

Passos quietos, em frente, sem alarde
De tudo, restou essa saudade danada
e a solidão a me acenar no fim da estrada...
(ania)

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Ideias morrem?

A hora da sua morte chegou, ele morria
Entretanto morre corpo, ideia permanece
Vida corporal dizem, da natureza é messe
Mas, mais que vitalícia, perene será ideia.

Cadáver imóvel, resignado, mera anomia
Viveu desafiando tudo que desse e viesse
Contudo não resistiu, faleceu de estresse
Queimou a vela pelos dois lados, eu diria

Mas, pergunto: e o conteúdo desse crânio?
Aquele tal raciocínio original e espontâneo?
Vai ao túmulo e, em silêncio permanecerá?

Pois, nessa possibilidade eu não acredito
As idéias se transmutam para um infinito,
E livres de todas tensões resistem por lá.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Amoras derretidas

As interrogações da vida, as vezes
Morrem, derretem na palma da mão
O morno canto das cigarras corteses
Resvala no sorvete que está no chão.

Ah meu caro, amora derretida esfria
Sorvete, até o céu da boca congela
Deixe estar, coma a casquinha vazia
E aproveite o sabor que existe nela.

Respire os ares desse verão morno
Retire portanto o que mais lhe apraz
E lembre de ir reto, não faça contorno.
Talvez seja bom não olhar para trás.

Idas e vindas tem o amor e o verão
Decida se queres reviver as mágoas
Ao menos saiba: aflitivas lhes serão
Seria melhor nadar em outras águas.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

O Homem

Inspirado em Augusto dos Anjos

Hoje velho, fico revivendo minha infância,
Que parece distante, existiu em outra era
Talvez mais pura, mais honesta e sincera
Que, agora, à velhice oferece substância.

Claro, lhe fornece douração, tal distância,
Acrescenta até alguma dose de quimera
Que, parece, é talvez algo que se espera
Nada do gênero angustioso de dar ânsia.

Toda maturidade será portanto um misto
De infância e mocidade, porquanto existo
Enquanto momentos bons e ruins somem.

Fazendo de mim quem sou, exatamente
Um animal racional o qual pensa e sente
Em outras palavras, fez-me um homem.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Todos somos animais

Por vezes a gente esquece que é animal
Raciocinamos, então eu sou ser superior
Outros seres? Subordinados em alto grau
Vida que temos eles sequer podem supor.

E vai o Homem, pensando que é especial
Tem-se no Planeta, como a mais fina flor
Entre a fauna e flora ele acredita ser o tal
Rei, que se acha, deseja ocupar o andor.

Infelizmente, para arrogância tão estulta
Natureza sutil como é, possui um ideário
Ácie, nunca aplica penalidade nem multa
Reserva ao discriminante outro calvário:

Importa pouco bela, se tu és mulher culta
O dia que doer o dedo, vá pro veterinário!

domingo, 25 de setembro de 2016

À gastança

O que importa ter dinheiro ou não?
Viver emoção da compra, isto sim!
Ínclito, ter pra ter satisfação
Concentrar o melhor não é ruim.

Ideal é jamais comprar, então?
Ou ser apenas comprador chinfrim
Deitar fora todo cheque e cartão?
Adeus tentações em torno de mim?

Como sei que será impossível isso
Ouço a consciência toda manhã
Mas vontade de comprar dou sumiço.

Para manter então, a mente sã
Recorro a racionalismo submisso

Apelo à compra tanto mais chã.

sábado, 24 de setembro de 2016

Ao cuitelo


E as flores, que, mais que tudo, sabe você
mas fontes que transbordam admiração
ob seu bico floram sem saber o porquê
las, graças a tua labuta, são o que são.

nclusive sei: sem beija flor, não haveria
egônia, dália, magnólia, cravo e jasmim
ntão, provavelmente em nosso dia a dia
ndiferença, tristeza e uma apatia sem fim.

ardins de pedras, sem brilho e sem cor
penas terra nua sem uma vida qualquer
rio pedaço de terra, sem nenhum calor.

ogo o Planeta, imutável tal não se quer
bscurecido, tristonho, morrendo de dor
eduzido a receptáculo da morte que vier.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Ao "O Alienista"

Imaginemos o planeta todo certinho
Legado isento de mácula do passado
Hoje, cada qual trilhando o caminho
Assente sobre o que fora acordado.

Só perfeição, água água, vinho vinho
De acordo com o que foi determinado
E a existência monótona sem espinho
Logo, vai parecer que há algo errado.

Ou vivemos nessa maltusiana utopia
Uma vidinha onde males terão cura
Cujo nosso pior desafio o que seria?

Um viver sem metas, quem procura?
Retrocesso inútil e qualquer alegria
Assim, benvindas as ilhas de loucura.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Sapiência

A realidade por vezes surpreende
Viver está muito longe da perfeição
Esperar que por benfazejo duende
Resultará encontrarmos decepção.

Desejamos que ao redor tudo certo
Aqui supomos verdadeira sabedoria
De fato, se apenas vermos por perto
Encontramos muitas vezes a alegria.

Incerto o sentimento que nos rodeia
Raras as amizades perenes e reais
Amizade é como uma gostosa ceia
Se for mesmo boa, queremos mais

Aprender perdoar é o primeiro passo
Basta querer para vivermos em paz
Então tudo bem, saímos pro abraço
Deixar como está, assim que se faz.

O tempo será nosso aliado, portanto
Resistir à experiência é desagregador
Insistamos em ser bons, um quanto
A verdadeira sabedoria é só o amor.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Viva hoje!

Se esta vida te traz diários desafios
E tua realidade é inquieta e pesada
Jogues fora os badulaques e atavios
Aproveites tudo hoje, meu camarada.

Sejas como água que corre nos rios
Faças do caminho uma bela jornada
Esqueças o derrotismo e os calafrios
Lute pelos teus sonhos nesta estrada.

Inicie esse dia prometendo ser feliz
Zoe dos obstáculos e contrariedades
Hoje um melhor dia, assim tu o quis.

Ontem, dia que só deixou saudades
Já dos melhores momentos peça bis
E aos ventos essa liberdade brades.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Adrenalina?

As consequências ruins nem ligo
Tenho no corpo coragem incontida
Assim enfrento e não busco abrigo
Lúcido o audaz com o perigo lida.

Algumas pessoas adoram o perigo
Desafiam o medo para sentir a vida
Realizar-se ao olhar próprio umbigo
Encarando morte de cabeça erguida.

Não é minha praia, eu garanto isso
Atrever-se para afirmar-se corajoso
Louco não sou, pois possuo toutiço.

Ignoro se não arriscar é ser medroso
Nem digo que pode parecer omisso
Apenas continuar vivo é maravilhoso.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O inquilino

Há consenso, alguém sobra na Terra
O nosso planeta em equilíbrio perfeito
Mas veio o Homo esse feitor de guerra
O mundo, à frente, jamais tomou jeito.

Iníquo, o Homo parece não enxergar
Não percebe ser o intruso indesejado
Quando surge deixa ordem naufragar
Um vírus maldito, esse excomungado.

Invadiu tudo, exterminando os animais
Louvando-se em nome do progresso
Inquilino que não vê por aí seus iguais
Nada mais importa, somente o sucesso.

O planeta está a seu serviço, ele pensa
Mesmo sabendo-se apenas um inquilino
Arrogante, não encontra quem o vença
Logo traçará desta Terra, triste destino.

Deixe que um dia pagará caro essa conta
Inclusive, pagar dobrado o idiota deverá
Todo dia no oriente o velho sol desponta
Olha e diz, do jeito que está, saída não há.

domingo, 18 de setembro de 2016

Pedras roladas

Priscas eras as pedras na construção
Erigida pirâmides, a ponte, a muralha
Deixaram marca, fizeram a civilização
Robustas, fortes, pequeninas se calha.

Assim pedras, seixos ou britas o são
Se for preciosa, dinheiro se amealha
Quando esculpida agora vira atração
Uma pedra é arma ou pode ser calha.

E se for rolada, não cria limo jamais
Rola a pedra sem aresta, porquanto
O rolar muitas vezes as torna iguais
Lisas, redondas e bonitas um quanto.

As pedras que rolam são bem legais
Mas, quase certo, perdem o encanto.

sábado, 17 de setembro de 2016

Pedras que rolam

Desdo início, as tais pedras lascadas
Mais tarde, pirâmides tanto colossais
Até as simplórias pedras das calçadas
Passando à muralha da China e mais.

Pedras no caminho são apenas nadas
Haverá muitas nas construções do cais
Pedras que impedem nossas jornadas
Algumas polidas outras bem desiguais.

A pedra brilhante do noivado, no anel
Outra na uretra que gemer nos obriga
Granizo, pedra que vai caindo do céu
E pedra lançada, amistosa ou inimiga.

Porém, pedras que rolam vivem ao léu
Espalhadas por aí, quase ninguém liga.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Será mesmo?

Boa ou má sorte dependem de evento
Ou o roteiro desta vida já está traçado?
Basta gato preto prá mudar o momento
Assim como há um tal de mau olhado?

Gente há que ao horóscopo fica atento
E para outro, redemoinho é enfeitiçado
Nada há que não tenha encantamento
Sim, bobagens de um cérebro limitado.

Debaixo de escadas não passar jamais
E cobrir os espelhos se houver trovões
Mas, pior é sexta-feira treze e que tais.

Assim seguem a vida com seus senões
Insistindo nestas assombrações virtuais
Só que tudo não passa de superstições.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

A tristeza da rosa

Jogada, abandonada e tristonha
Ávida para contar aquela história
Nervosa até pejada de vergonha,
O que não tem ganho nem glória

Uma rosa, que não é flor bisonha
Tratada como fosse mera escória
Recorda, lembra, também sonha
O que fora bom, agora é memória.

Já perdeu seu perfume, embora
Ainda que tenha colorido o jardim
Rosa triste, é só a flor que chora.

Diz que não vai continuar assim
Infeliz e desprezada que é agora
Melhor deixar vida chegar ao fim.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Acróstico

Sucessão de altos e baixos é a vida
Ontem tudo beleza, hoje nem tanto
Mover-se do sorriso à raiva incontida
O mais das vezes a um doído pranto.

Se há felicidade, há tristeza também
Alegria é espontaneidade, somente
Logo alegria é sinônimo de tudo bem
E felicidade: igual alegre e contente.

Geralmente felicidade a gente busca
Recebe alegria que nos vem de graça
Entenda, uma à outra jamais ofusca
Se há felicidade, certa alegria grassa.

Ou somos alegres ou felizes, mentira
Uns podem ser alegres mas infelizes
Feliz é aquele vivente que não pira
E alegre é aquele que ri do que dizes.

Levemos a vida vivendo o dia-a-dia
Ignorando aqueles que são malas
Zoemos e vamos encontrar alegria
Então, prazerosamente, desfrutá-la
Sem esquecer que há no ar, poesia.
?

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Soberania do tempo

O formidável tempo não é bom nem mau
Tem sobre todas as coisas, ascendência
Ele portanto, é soberano absoluto afinal,
Meio verdadeiro para obtermos tenência.

Pode tal tempo tornar-se transcendental
O que lhe aprouver, esta a sua essência
Algum dia tudo que existe some. Babau!
Basta que o tempo demonstre ausência.

Se o tempo um dia tomar chá de sumiço
O que restará será simplesmente lhufas
Logo, uma existência sem compromisso.

Um não universo que convida a pantufas
Tempo inexiste? O resto também, é isso!
O tudo transformado em nada, em bufas.