31 de março de 1964

Soldado da Aeronáutica Jair em 1964

Olha os comunistas! Era o refrão,

ódio que chefes passavam à tropa;

trata-se de gente sem compaixão!

de esquerdistas vindos da Europa!

Terríveis,  eles   comem  criancinha!

fiquemos   de olho  nesses utopistas;

que bebem vinho e estragam a vinha,

vêm disfarçados de pseudos artistas.

Nós  militares,   estamos   alerta,

para não deixar a vis esquerdistas,

nem janela  ou  uma porta aberta.

Se tomam poder não há quem resista,

regime   sem   liberdade  na   certa,

como querem bandidos terroristas.

  

Homo sapiens e a natureza

Homo sapiens, este ser pensante,

que no Planeta pouco tempo há estado;

parece muito, mas muito empenhado,

em ser um miserável discrepante.

Basta ver, ele um primata arrogante,

se comporta como o filho mimado;

que vendo tudo com sinal trocado,

se torna, da natureza, distante.

Ó Homo sapiens tornado imbecil,

o mal que causas ao mundo não vês?

Não percebes para onde corre o rio?

Pensa que serás imune, talvez,

a essa atuação insana e infantil

carente assim dalguma sensatez?

Problemas são úteis

Quando vero problema o homem encara,

então este ocupa demais sua mente;

há, sim, pois um impulso assaz fremente,

para enfrentar firme essa coisa rara.

Mas, pra deixar a atitude bem clara,

terá que ser evento consciente;

e não um laissez faire simplesmente,

que pode apenas livrar sua cara.

Determinado deve ser um homem,

porque só assim ele se impõe então,

e fraquejar os seus dotes somem.

Há que saber hora de dizer não,

ou pusilamidades o consomem,

e, gigante que foi, torna-se anão

Todo mundo pelado!!

Então a religião inventou o pecado,

desde que Adão se descobriu despido;

porquanto este havia delinquido!

mas, é crime permanecer pelado?

Na bíblia, Noé, quase um descarado,

encheu a cara e deitou-se desvestido;

parece que o Mestre ficou ofendido,

apenas faltou tacar-lhe o cajado.

E, se entendi, o despido não tem vez,

vamos castigar toda essa nudez!

assim o deseja a sacra história.

Praia lotada é ofensiva, talvez,

e nus, só no escuro, vejam vocês,

para garantir a divina glória.

Usurários

Busca desenfreada por dinheiro,

vida subordinada, pois mesquinha;

apenas da matéria se avizinha,

homem que da usura é companheiro.

Somente lhe cabe golpe certeiro;

quando enxerga lucro até dobra espinha;

e sequer legalidade esquadrinha,

pirão é pouco, meu prato primeiro.

Pois são próceres desavergonhados,

e vestem máscara de homens nobres,

maneiro o gestual da picardia.

De almas são os senhores mercadores,

ficam ricos do que tiram dos pobres,

no confessionário têm alma pia.

Aurora

Se de longe encanta-me essa aurora,

imagino de perto, outras vertigens;

festas de luzes, o dia comemora,

desvendando nuvens ainda virgens.

A noite despede-se, então vai embora,

recolhe-se ao berço de suas origens;

porque seu recolhimento tem hora,

enquanto o sol pinta-se de fuligens.

Certamente esta luz não é bizarra,

pelo contrário, esta manhã clareia,

e o sol rompe o dia com fanfarra.

E começamos esta vida cheia,

como à tábua de salvação agarra,

acreditando no canto da sereia.

A beleza do fim

Essa  busca  desenfreada  pela  estética,

esse  desprezo  desumano  pela  estóica;

uma  escravidão  viciante  pela métrica,

naturalmente deixa a mulher paranóica.

Lábios, peitos, cintura e bundas modelados,

que  robusta  aparência  de  perfeição gera;

passos,  olhares  e  gestos  bem  calculados,

afirmam:  cá,  apenas  falsa beleza impera.

Portanto se vê tal corpo moldado em músculo,

dessa    estrela    misteriosa  e   fascinante;

belo invólucro para um cérebro minúsculo,

que  nada  pensa,  somente  segue adiante.

Parece que sociedade chegou ao crepúsculo,

mas, o  final  deste  mundo  será brilhante.

O energúmeno

Onde passa o homem deixa sequelas,

sem qualquer consideração devida;

destrói e deprecia sem mais aquelas,

numa constância trágica, suicida.

São ações dolosas, quais sejam elas,

a  existência  do  homem  é  doída;

quer tenha ou não comida nas panelas,

no  Planeta  causa  extensa  ferida.

Com ele a morte carrega estandarte,

e, assim, pois, terá justa despedida,

quando o Planeta perder todo brilho.

Arrogante, acha que faz sua parte,

nesta  caminhada  vã,  só  de  ida

no final, nada legará a seu filho.

O melhor amigo

Quando  correndo, radioso o vejo,

rabo  balançando como um sorriso

e saltitando  sob  qualquer ensejo,

me pergunto se cachorro tem siso.

É  pergunta  maldosa  de  sobejo,

pois  o cão traz em si um paraíso;

alegria  e  festa    num   lampejo,

e, mais que nós, um especial juízo.

Pois  é,  somente  amizade,  aquela

que, as vezes  se  faz como trovão

Porém, que ao ser humano se atrela.

Pois bons companheiros, eles nos são

e  só  nos  deixam  por  uma  cadela,

porque  não  nega  sua  classe o cão.

Ondas

Quando quebram as ondas nos rochedos

violentas,   num     movimento   insano,

como a nos   despertar ocultos medos,

parece  certo  que  elas  têm  um plano.

Há ondas bravas e elementos quedos,

que  disputam  durante  todo  o   ano;

em medonhos jogos que não são ledos,

porém, que  movem o  grande  oceano.

Coisas   prodigiosas   são   as  ondas,

incansáveis, muito francas, constantes,

e nada sentem quando tu as sondas.

Quebram, e  não  mais  vão  adiantes,

e, rolando, formam franjas redondas,

por isso é normal que tu te espantes.

Ancestrais

internet - slowpainting.worpress.com

Em Lascaux, Neandertal deixou pintura,

arte  mágica  ou  somente  seu  drama,

a  qual  conspurcou  sua alma  tão pura,

que  nos  desenhos  o  Homo proclama.

Não  parece  uma  vida  de amarguras,

talvez dalguma transcendental trama;

Neandertais  eram  calmas  criaturas,

cujas  almas  não  ardiam  em chamas.

Há alguma mensagem não lida ainda,

algo  que  diga  como  a  vida é linda?

que  enalteça  a  burra  humanidade?

Eu,  sinceramente, nisso  não  creio,

porque o Homo não disse a que veio,

e é um primata que mente a vontade.

Só frutas

Admiro, então gosto demais de frutas,

que  sequer mesmo sei dizer o quanto;

pra  mim são coisas belas e impolutas,

as  quais, por  si  só possuem encanto.

São frágeis e delicadas, e não brutas,

bem  vistosas  e gostosas um  quanto;

tal  como fossem  mulheres  enxutas,

iguais  a  formosas   divas,  portanto.

Frutas mesmerizam qualquer homem,

então, apenas os tolos não as comem,

Os quais não sabem o que estão perdendo.

É  possível  viver  de frutas somente,

que deixam mais saudável toda gente,

pois, sem  dúvida,  prossiga comendo.

Gatíssima

A tipa se achando incomparável,

assume ares de fêmea mandona:

-Eu sou marombada, também saudável

que pose de diva me proporciona!

Gata desse nível não é amável,

pois pensa que altivez funciona;

sofre dum estrelismo insuportável,

porque crê que deste mundo é dona.

E não se sabe que mundo habita,

mas, parece, uma gazela no cio,

numa busca por macho infinita.

Com certeza, algo assim jamais se viu,

vazia, medíocre, porém bonita,

que, por mim, vá prá puta que pariu!

Bucolismo

Deixemo-nos ficar pelo menos, apenas

quietos, tranquilos debaixo da aroeira;

aqui onde até as cigarras estão serenas,

e que bem perto farfalham belas palmeiras.

Neste solo que brotam róseas açucenas,

donde se avista dominante cordilheira;

e ficamos maravilhados com a cena,

recanto ideal para ficar de bobeira.

Sinceramente, aqui mora a felicidade,

neste bucolismo distante da cidade,

e de onde jamais se deseja ir embora.

Tudo tão real, tudo muito bem parece,

porquanto da natureza é nossa messe,

a qual devemos desfruta-la aqui e agora.

Sentimentos salvam

S im, chorar depois rir, tem sua hora

E cada evento alguma coisa diz

N em sempre neste momento, agora

T em-se essa sensação de ser feliz.

I ndispensável o choro, talvez

M as assaz importante uma risada

E ambos por certo tem sua vez

N egar tal fato nos levará a nada.

T ais sentimentos trazem solidez

O que torna nossa vida regrada

S orrir e chorar mantém lucidez.

  

S e nossa existência estiver travada

I nfeliz numa morna pequenês

M ais choro, mais riso e pé na estrada.

O vate sabe

Com sua muito especial acuidade,

o vate, em tudo enxerga grandeza;

pra ele nada parece futilidade,

e toda interpretação põe a mesa.

Portanto não busca apenas verdade,

basta que inspiração seja coesa,

e que o tema lhe inspire vontade

De modo que ao leitor cause surpresa.

Ele, um evento filtra com o olhar,

que, crítico, sabe como julgar;

o que lhe causa imenso prazer.

Então seu pensamento se expande,

e o que era pequeno ficará grande,

pois vate sábio sabe o que fazer.

Luz e sombra

Lá muito longe, primeiros alvores,

a alumiar topo daquela serra;

uma luz que desperta alguns amores;

e, obviamente beleza descerra.

O sol como que levado em andores,

e cujo brilho é um grito de guerra;

dissipa sombras e os amargores,

portanto, quem o adora jamais erra.

Que brilho e escuro formam binários,

normal, é muito mais que evidente,

porquanto, são fenômenos contrários.

Então a luz a mesmerizar a gente,

vai compondo os melhores cenários,

e vai ser desse jeito eternamente.